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Flamengo e Palmeiras em noite de Copa no Maracanã, finalmente

É muito indigesto falar de futebol brasílio em dias tomados pelos Jogos Olímpicos, porque a gente se dá conta do tanto de picuinha e miudeza que nos metemos, de toda essa coleção de assuntos inúteis, contraproducentes e bobos com os quais ocupamos nossas quartas e domingos sabe-se lá o porquê, e por escolha própria.

A medalha de Rebeca Andrade e companhia em Paris é o contrário disso tudo, é o esporte que emociona e alcança a superioridade com trabalho, venustidade e superior astral. Longe, muito longe, do que a gente dá conta de erigir e curtir coletivamente quando se trata dos boleiros da escol do futebol.

Nenhuma surpresa com isso, só um calefrio no ar dum torcedor emocionado, pensando em globo na rede com as brasileiras ali ao fundo na televisão, felizes em seguida rodopiar para se meter no clubinho — o Brasil é primeira prateleira da ginástica, sim, senhor.

O sorteio da Despensa do Brasil foi generoso com a história de Flamengo e Palmeiras, que desde que inauguraram momento de protagonismo já disputaram os principais títulos possíveis, corridas por pontos em Brasileirão, uma taça de Supercopa em Brasília ou uma Libertadores da América em jogo único em Montevidéu.

Com todo o barato que foi o Centenário tomado por torcedores brasileiros, faltava um mata-mata lá e cá, aquele cheiro de noite copeira inconfundível com o nosso churrasquinho, nossa cachaça, na ida e na volta.

O Flamengo, à segmento essas duas decisões em campo neutro, não perde para o Palmeiras desde 2017, num time que ainda tinha Paquetá e Vinicius Júnior. Pelo que tem feito no confronto (um atropelamento no ano pretérito, que passa meio suplantado porque o alviverde bateu vencedor pelo eventualidade daquela tábua arruinada pelo Botafogo), penetrar em moradia me parece uma vantagem para a equipe de Tite, favorita para vencer a primeira perna e jogar a pressão toda para o lado de lá, martelando até semana que vem.

Já o Palmeiras teve duas semanas de teste no mesmo Rio de Janeiro e acabou perdendo com evidentes dificuldades de firmar seu jogo, atuando relativamente muito contra o Botafogo, é verdade, mas pouquíssimo envolvente ou ofensivo diante do Fluminense. Abel Ferreira tem toda moral do mundo com elenco e torcida, mas a bronca na queda para o Vitória deixa simples que o time não anda na batida ideal. A rijeza de visitar o Flamengo é clara, inimigo mal-agradecido para uma eliminatória, ao mesmo tempo que jogo do tamanho que esse time se acostumou a responder.

Em campo, a volta de De La Cruz é um grande trunfo para Tite, que volta a ter o uruguaio de pulmão e lucidez para amparar Gerson e Arrascaeta. É um timaço. O Flamengo com sua moradia enxurrada, ao receber uma camisa enorme do outro lado, precisa de subitâneo responder com posse de globo, originalidade e um leque de boas chances de gol. Passados sete meses do ano, veremos em que pé anda o encontro da euforia rubro-negra com o pragmatismo estratégico do treinador gaúcho. É meio clichê, mas o ano começa em 31 de julho.

Que falta faz Estêvão para qualquer jogo de futebol, imagina portanto num dos maiores deles no Brasil, valendo tanto. Esse Palmeiras de Dudu e Felipe Anderson ainda pode suceder, por que não (alguns Palmeiras já aconteceram nos últimos anos com gente degraus aquém), mas ainda é só um rascunho, uma projeção de qualidade técnica que ainda não teve tempo de desabrochar.

A ver se o técnico português, um fissurado por esses grandes duelos esperados por dias e dias, arranja um onze capaz de solevar o nível de competição, já que as últimas impressões foram muito aquém de uma equipe que se propõe uma vez que candidata a todos os títulos.

O Maracanã perdeu a universal, os geraldinos e o gigantismo, mas ainda mexe. Eu, um paulista que por curvas da vida mora a vinte minutos a pé do Maior do Mundo, pacto com um sorriso escapando só por lembrar que é dia de Estádio Mário Rebento.

O Maracanã não acaba — se rasga o tombamento, se derruba a arquibancada, se encarece o ingresso e se encareta o público —, mas não acaba porque é fundador do mito que nos deixa cá, pendurados escrevendo, lendo, vendo e ouvindo futebol todos os dias.

Num mata-mata, tem o maior jogo provável hoje. A ver se um lance, um mínimo tapa, remete minimamente ao calafrio de um salto de Rebeca. Se não houver, a gente inventa.

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